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ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA 

Santa Cruz do Sul, Brasil / 2012 

 

Autores: Arq. Bruno Giugliani, Arq. Cíntia Gusson Etges, Arq. Karen Bammann, Arq. Pablo Montero Merino

Paisagem

Ao contrário da água, que retoma sua forma imediatamente após a passagem de um barco, a paisagem guarda na “pele” as marcas deixadas pelo homem. Camadas são acumuladas umas sobre as outras, em uma espécie de registro histórico do tempo que passa. São vestígios de outras épocas tatuados na terra, que nos orientam no tempo e são referências no espaço, como lembranças da nossa história.

A proposta de intervenção da Granja Municipal de Santa Cruz do Sul respeita as diretrizes existentes, sua história e seus legados; mas aponta para uma relação mais sustentável com a terra. Entendemos que formamos parte de um processo já iniciado de apropriação do meio rural, onde acreditamos ainda ser possível uma relação ambiental, social e economicamente responsável com a natureza.

Distante cerca de 10Km da cidade, a área de intervenção tem um forte caráter rural, com topografia levemente acidentada e emoldurada por uma área de mata nativa. Segundo as diretrizes da ocupação existentes se propõem uma série de intervenções pontuais, analisadas e organizadas em camadas: sistema hídrico, sistema verde, uso do solo, mobilidade, sistema de referências e estruturação territorial. Tais camadas são articuladas dentro de um sistema de ordenação do território, visando organizar as ações e usos mais importantes.

 

Sustentabilidade

Previamente analisado e ordenado o território, se propõem a qualificação ambiental dos espaços através de sistemas e práticas sustentáveis. Orientando as atividades do campo e da escola na direção de uma prática responsável. Para isso criamos uma teia de sistemas que tem como objetivo auxiliar nossas atividades diárias, tornando-as menos impactantes para o meio ambiente.

Entendemos a função sócio-educativa dessas práticas na vida das pessoas, e a importância de um modelo no ambiente escolar. Propomos uma reflexão sobre o homem, e suas atitudes individualistas na construção da paisagem. Nosso desafio está em colaborar para o desenvolvimento de um novo pensamento e um novo modo de conviver em sociedade. A questão ambiental é um dos temas mais importantes de nossos tempos, e percebemos que é capaz de unir nossa sociedade individualista para combater um problema global. Essa é a atitude que queremos fomentar para reverter o processo de degradação ambiental ao que estamos confrontados, uma atitude comunitária. 

 

Escola Família Agrícola_SC

A proposta trata de levantar um edifício símbolo do que representa a EFA. Um projeto que transcenda a mera organização funcional do programa no espaço, mas que possa ser representativo da filosofia da instituição. Adaptando-se ao modo de vida e as atividades que nela serão desempenhadas. Pensamos a escola de “dentro para fora”, desde a pedagogia da alternância, desde um ideal de respeito e igualdade.

Posicionada delicadamente no terreno a EFA assume a forma de um círculo, um anel que protege uma praça interna desde a qual podemos nos sentir abraçados em comunidade. É uma forma que responde bem a função simbólica do edifício, e mimetiza com um dos símbolos mais potentes da pedagogia da efa, a “roda”. O circulo proporciona um ambiente acolhedor, democrático e igualitário, representa a união das pessoas.

O programa de necessidades solicitado, estimado em 1.500m², é resolvido dispondo os ambientes ao longo do anel, obedecendo diretamente a critérios de orientação solar. Todas as áreas do projeto recebem iluminação natural e ventilação cruzada. A praça central respeita a topografia natural do terreno e atua como catalisador de todo o projeto. É o espaço mais versátil, onde podem ser realizadas assembléias, “rodas”, eventos, cinema ao ar livre, exposições, ou simplesmente ser um local para estar. É através da praça que entramos na escola, como se entrássemos “de dentro para fora”. Passagens em nível, ou sob o nível do anel conferem um tom místico a esse acesso. Uma vez dentro do edifício propriamente dito, comunicamos o programa através de uma circulação interna, aberta para a praça, que contorna do o conjunto. Alguns ambientes são mais permeáveis e oferecem vistas do interior do projeto para o exterior, conectando o usuário ao espaço externo. Ainda sobre a cobertura aproveitamos uma área de mais de 1.500m² para hortas e cultivos experimentais da escola.

O volume apresenta um modelo estrutural tripartido. Uma plataforma de concreto se eleva do solo através de pilares que a atravessam para sustentar a cobertura, de igual formato. A partir desse esqueleto de concreto pré-moldado, o miolo pode ser distribuído e compartimentado livremente, de acordo com as necessidades. Isso permitirá uma construção por etapas, dos módulos internos que abrigam o programa, atendendo ao planejamento financeiro da escola.  A obra deve ser rápida e de baixíssimo impacto ambiental, tendo em vista que a estrutura chegará pronta ao terreno para ser montada. O volume é revestido por uma pele bioclimática que poderá regular a transmissão de luz e calor para o interior do edifício, enquanto a cobertura verde garantirá melhor isolamento termo-acústico.

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